Comunicação vai além de comunicar, precisa ser responsável

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Já parou para pensar que aquele teu textão nem é lido? Que aquela tua legenda não diz nada com nada? Ou mesmo que teu comentário crítico não tem nada de construtivo até porque você nunca sequer vivenciou algo do tipo (quem dirá construir alguma coisa)?

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Escrito por Cláudia Palhano

em 13/01/2021

Já parou para pensar que aquele teu textão nem é lido? Que aquela tua legenda não diz nada com nada? Ou mesmo que teu comentário crítico não tem nada de construtivo até porque você nunca sequer vivenciou algo do tipo (quem dirá construir alguma coisa)?

 

Há um tempo atrás o escritor Umberto Eco disse que a internet deu voz a uma legião de imbecis, ou algo do gênero. E a gente sabe que ele tem razão, mas (desculpa aí, Umberto) nem tanto. Óbvio que o comentário gerou muita polêmica. Enquanto os defensores da academia se chocaram, mas tentaram compreender o manifesto, usuários das redes sociais acharam o comentário um tanto radical. E foi mesmo.

 

Afinal, qual o conceito de imbecilidade? Ok. Pode ser o de idiota. Mas o que é ser idiota? Ser ignorante? Mas, ignorante pode ser aquele que ignora ou desconhece algo, certo? Assim, voltamos ao princípio de que os conceitos também dependem do contexto onde são empregados. E talvez seja esse o grande ponto da questão.

 

Não, não estou falando que Umberto está de todo errado (e quem sou eu pra questionar o cara, não é mesmo?). Apesar de forte e um tanto grosseira, a fala é extremamente lúcida. Afinal, é anormal o número de donos da verdade que só têm crescido com o passar dos tempos. Então, o que eram simples opiniões debatidas informalmente ganham notoriedade.

 

O filósofo e linguista diria ainda que conversas de mesa de bar tomam uma visibilidade maior, irresponsável e perigosa. Sim, de fato Umberto foi um visionário, porque agora mais pessoas concordam com ele e, cá entre nós, dá até uma vontadezinha de tirar o acesso de “certas pessoas” aos meios de comunicação, tamanhas são as barbáries ditas (inclusive, tenha sempre um pé atrás com quem quer calar alguém, porque ninguém tem esse direito).

 

Todavia, é de se considerar que, não fosse o também crescente alcance dos meios virtuais tanto às pessoas quanto aos temas em debate, muitas pautas nem atingiriam determinados públicos. Assim, a internet cumpre, ainda que de forma capenga, um papel de inclusão.

 

Ou seja, o ambiente está aí, e é preciso lidar com tudo isso que ele oferta: diversas opiniões, poucas com alguma base, muitas movidas à emoção.

 

Mas de quem é o problema? Das marcas que utilizam a rede? Dos usuários comuns por meio de suas páginas? Como cobrar politização, embasamento teórico ou alguma vivência de tantos perfis? Não se cobra. Isso mesmo: “não se cobra”, pelo contrário, “se cria”.

 

Qual a qualidade daquilo que você produz? A quem interessa consumir? E, aliás, seu público, seguidores e amigos conversa com você? Vai além das curtidas? O que eles comentam? E quando o fazem, você responde? Existe conversação?

 

Além do valor em si dos conteúdos produzidos e reproduzidos nos canais virtuais, imagino – e humildemente imagino – que Umberto Eco temia muito que as pessoas descuidassem da comunicação de fato: aquela que comunica, que informa, que traz a tona.

 

Quando abordo isso, não é porque acredito nas pompas e floreios de um texto, falado ou escrito. Mas porque a objetividade do discurso atinge de forma eficiente um maior número de pessoas e possibilita que elas conversem com a ideia expressa. Solucionem um problema. Identifiquem-se com o assunto. Talvez seja isso, inclusive, que justifique o crescente mercado da comunicação digital.

 

Afinal, se as pessoas estão tendo consciência do alcance de seus posts, por exemplo, e passaram (ou deveriam passar) a tomar certo cuidado, as marcas, que formam opinião e representam pessoas específicas precisam ser ainda mais responsáveis com aquilo que comunicam. E, conscientes disso, cada vez mais empresas buscam o trabalho de profissionais para efetuar a tal comunicação.

 

Mas daí você pode questionar: e onde fica a vivência de uma agência de comunicação dentro de segmentos tão distintos como, por exemplo, os abarcados pela indústria mecânica?

Fica contido na pesquisa, planejamento e estratégia, a partir daquilo que é o objetivo da marca. Pois, é lógico que muitos de nós não entendem de solda, assim como não entendemos de perfumaria ou qualquer outro universo e suas particularidades. Mas também é óbvio que existe um nível de técnica que garante, principalmente, respeito com o que será levado ao seu destinatário.

 

E é isso que tem faltado: respeito com quem vivencia situações, com quem estuda casos e principalmente com quem consome.

 

Umberto falou da internet de uma forma ampla, como vocês devem lembrar. Falou dos males que opiniões infundadas e carregadas de ódio podem causar. Mas seja no seu perfil pessoal ou da sua marca, a responsabilidade é sua e é preciso ter respeito com as pautas e as pessoas que podem vir a interagir.

 

Em tempos de verdades únicas e absolutas tão questionáveis como o fato de a Terra ser ou não plana, conhecer quem está do outro lado e falar a este alguém com base, seriedade e respeito é valorizar as relações. Nem todos têm o mesmo acesso, e ainda que tivessem, não fariam a mesma leitura dos fatos. Ou seja: para quem você comunica? Qual o peso do seu discurso? Ele fala para você ou por você?

 

Sou daquelas que não acredita em informação isenta, por isso afirmo: seja verdadeiro com os seus e respeitoso ao dizer isso. Mas, se isso tudo é muito complexo, deixemos esse debate para a mesa do bar, depois da Covid, que tal?

 

Por: Cláudia Palhano 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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